Sobre Dilmas, Don Joões e o nosso Miguê.

[Rodrigo Mudesto] Uma das coisas que chama a atenção atualmente é a proeminência que a politica dos cariocas (que não equivale a politica carioca) ganhou no ultimo ano.  Desde muito cedo, o Rio se consagrou como O palco da politica nacional, sem ser ordinariamente seu maior protagonista. Mineiros, gaúchos, paulistas, pernambucanos, baianos… Cada qual a…

A Complexidade do Cotidiano

[Fernando Perlatto] Se à literatura, dentre outros desafios, cabe a tarefa de desvendar a complexidade da alma humana e destrinchar de forma poética as epifanias e as agruras da vida cotidiana, o mercado editorial brasileiro pode celebrar – e este termo não é, neste caso, exagerado – a publicação, pela Companhia das Letras, da tradução…

‘Personagens Conceituais’ de Fernando Pacheco [resenha]

[João Gabriel Alves Domingos] Pode-­se tomar a filosofia como uma forma de ficção? Se pensarmos nos diálogos, talvez não seja um caminho tão absurdo. No entanto, preocupado em argumentar a favor da especificidade da filosofia, Gilles Deleuze (1925-­1995) rejeitaria a tese de alguns de seus contemporâneos segundo a qual a filosofia é um gênero literário.…

A Vida é um Eterno Amanhã

[João Ubaldo Ribeiro*] As traduções são muito mais complexas do que se imagina. Não me refiro a locuções, expressões idiomáticas, palavras de gíria, flexões verbais, declinações e coisas assim. Isto dá para ser resolvido de uma maneira ou de outra, se bem que, muitas vezes, à custa de intenso sofrimento por parte do tradutor. Refiro-me…

Por que as Universidades?

[Umberto Eco, Marco Aurélio Nogueira (tradução), Possibilidades da política] [N.T.] Tive a oportunidade de ler, no último fim de semana, o discurso que Umberto Eco proferiu em 20 de setembro de 2013, na Aula Magna de Santa Lucia, Universidade de Bolonha, Itália, por ocasião das comemorações pelos 25 anos da Magna Charta Universitatum. O discurso tem…

Não Verás País Nenhum (Trecho)

[Loyola Brandão*] REGOZIJEM-SE COM O OURO DE NOSSOS GARIMPOS, COM A MADEIRA QUE PODEMOS EXPORTAR, ORGULHEM-SE COM AS SAFRAS IMENSAS DAS TERRAS FÉRTEIS, ONDE, PLANTANDO, TUDO COLHEREMOS. CULTIVEMOS O OTIMISMO, A CONFIANÇA, ABAIXO OS NEGATIVISTAS. Duas coisas eram pior que o câncer para a Alta Hierarquia do Novo Exército: os espíritos negativistas e os comunistas. Eram caçados e isolados. Na…

O Marquês de Sade e a Tomada da Bastilha

[Georges Bataille*] Poucos acontecimentos têm mais valor simbólico que a tomada da Bastilha. Por ocasião da festa que a comemora, há muitos franceses que, ao verem avançar na noite as luzes de uma retirada de archotes sentem o que os une à soberania de seu país. Esta soberania popular, que é inteiramente tumulto, revolta, é…

O Carnaval morreu, viva a quaresma!

[Machado de Assis] Quando digo que o carnaval morreu apenas me refiro ao fato de haverem passado os seus três dias; não digo que o carnaval espichasse a canela. Se o dissesse, errava; o carnaval não morreu; está apenas moribundo. Quem pensaria que esse jovem de 1854, tão cheio de vida. tão lépido, tão brilhante,…

Mineirinho

[Clarice Lispector*] É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no…

o kafka de borges

[Denise Bottmann] [N.E.] a Revista Pittacos pinçou do perfil facebookiano de Denise Bottmann o post que reproduzimos aqui. Ficamos contentes por sua permissão para reproduzi-lo, e mais contentes em publica-lo tal e qual foi esboçado, com a agilidade da escrita de uma postagem, sem edições. vejam que quebra-cabeça. em 1937, saiu a suposta tradução de…

Papai Respeitava os Brancos, Mamãe Odiava

[Jorge Amado, 1934*] O primeiro dos fatos de que Henrique se recordava era a vaia que haviam dado em Ângelo, o gordo vizinho do sobrado amarelo. Hoje, Henrique tinha pena dele. Outro dia o vira. Estava gordíssimo, comerciante, carregava embrulhos de todos os tamanhos e de todas as cores. Tinha mulher magra e filhos que…

Negócio de menino

[Rubem Braga, 1964*]  Tem dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia: – Papai me disse que o senhor tem muito passarinho… – Só tenho três. – Tem coleira? – Tenho um coleirinha. – Virado? – Virado. – Muito velho? – Virado há um ano. – Canta? – Uma beleza. –…

Na Europa, Comia-se Com os Dedos

 [Eduardo Frieiro]  Até o século XVII, na Europa, comia-se com os dedos. O grego Plutarco deixou escritas algumas regras para fazê-lo com graça, nos banquetes gregos e romanos. De meia em meia hora, os criados apresentavam vasilhas com água morna para os comensais lavarem as mãos. Usaram-se sucessivamente a colher, a faca e o garfo,…