“Não era pai de família, mas talvez fosse limpinho” ou “Só mais um silva que a estrela não brilha”

[Rodrigo Mudesto]

Aproveitei uma brecha para assistir mais uns episódios de Low Winter Sun, interessante enlatado sobre mazelas de policiais na falida Detroit – mas se trocar o paletó e gravata por fardas ou coletes pretos, fica parecendo que a mazela é ali na esquina, é por isso que assisto. Tomo alguma distância de séries policiais propriamente americanas, com ou sem advogados (LWS é um remake ianque de uma minissérie britânica). Em minha simplicidade caipira, e portanto mariana, não compreendo o realismo que vem de cabeças cheias de ideias de predestinação. Tempo vai, tempo vem, e os gringos continuam crendo que seus presidentes pilotam caças ou que vez por outra sacodem espadas. Chega a ser terna a persistência na crença de que o mundo fica esperando, tal qual uma Miriam Leitão, que o “eleito” endireite o mundo.   E o que é um policial de seriado americano, o chamado maverick cop, se não mais um Obama, disfarçado com visual irlandês e mau pago? Ou seria o contrário?

Por isso, dos norte-americanos prefiro a fantasia. Desde Xerazade (prefiro com X, pra não causar confusão com outras aí) não apareceu ninguém tão bom nisso quanto eles. Mutantes, alienígenas, policiais loiras do FBI com habilidades psi. Nessas coisas dominam e ponto.

Enquanto assistia aos episódios, aproveitei para “adquirir” legendas fresquinhas para Frances Ha e Wolverine Imoral, digo Imortal. Ambos os filmes já correram circuito, inclusive no Brasil. Mas era domingo, e no momento era o que “tá tendo”. Não vi o primeiro ainda, está na minha lista, porém, há criticas apaixonadas que parecem querer descrevê-lo como o retrato de uma geração, que entendi ser uma Poliana-não-tão-Moça Indie. Fica pra depois. O dia estava quente e o negão cruel, com um relógio de pulso enorme, tinha feito coisas terríveis com a namorada puta-tcheca do policial sensível anti-herói branco em LWS. Fui de Wolverine.

Todo mundo que lê ou leu quadrinhos sabe que as versões dos filmes são ruins. E os ligados a franquia X-Men estão entre os mais despudoramente meia-boca. Mas ao se criticar corremos o risco de que parem de filmar quadrinhos. Ou pior, filmem com baixo orçamento. Então deixa com carcaju galã mesmo. Vale pelo bungee jumping horizontal e sem elásticos no trem. Mas não vale resenha. Então por que estou escrevendo?

Estou escrevendo em defesa de uma categoria esquecida pela luta socialista-progressista. A dos capangas. Por que diabos o Wolverine não pensa duas vezes em fatiar os ninjas genéricos ou os yakuza inexpressivos de óculos escuros, mas os mandões ele discretamente poupa?

Sim, porque todo mundo sabe que quem é jogado em piscinas, pelas janelas ou dentro do fosso do elevador, está sendo poupado, talvez sendo sacado para o próximo filme. Mas isso é ética de produtor. E o personagem? Como é que o cara justifica em casa, que depois de um dia de função, ele matou só a mão-de-obra chulé, e deixou os donos dos meios de produção se safarem?

Assim o Wolverine fica parecendo a justiça brasileira. Que insiste em dar diretos aos mensaleiros, que perde o prazo pra caçar tucano na Suíça, e que solta todo dia os membros do temível grupo demoníaco de cientistas estudantes do mal, que se auto proclama black bloc (se engana quem pensa que são pós-adolescentes fazendo cosplay, no interior todo mundo sabe que menino quando veste camisa preta, é porque virou satanista), mas deixa preso o pobre do pé-rapado do Rafael Vieira (se informe clicando aqui, mas volta pra terminar de ler meu texto).

Que o Ministério Público e os juízes brasileiros acham que vivemos em um bom e kantiano mundo, que são os pobres que atrapalham, todos sabemos, e já estamos acostumados. Faz parte da ordem natural das coisas. Junto com o diploma de direito vem o juramento de proteger todo mundo que pode pagar. Mas seu Wolverine, pra você fica feio.

Lá pelas tantas no filme, o herói coloca as mãos em um ministro da justiça corrupto, que está de cuequinha vermelha. Não, não é um uniforme de super-herói, é literal, pra dar comicidade. Afinal ele é japonês e logo não tão macho quanto o herói da América do Norte e, imerecidamente, bolinava beldades ocidentais e noivava a heroína. Wolverine então obtém a confissão do próprio, o tal de cuequinha, que havia ordenado à caçada a heroína, por quem o herói estava merecidamente recém-apaixonado.  Caçada essa durante a qual o x-man havia transformado em mortadela uma dúzia ou pouco mais de operários do crime. Wolverine decide então poupar (envergonhadamente e proferindo uma desculpa furada pelo canto da boca) a vida do inescrupuloso e nada sedutor político. O filme prossegue, e mais assalariados vão sendo fatiados, sem merecer nem mesmo um olhar na cara, enquanto aos grandes empresários, políticos demagogos e criminosos com PHD são concedidas todas as oportunidades de defesa e fuga.

Há que ressaltar uma qualidade do filme, as várias tribos de capangas. Nada deve ser mais evitado, em um roteiro, do que unificar os capangas, afinal capangas unificados num só exército, com um só chefe, seriam mais temerários. Prefiro roteiros onde há várias jurisdições, digo territórios, para capangas diferentes, assim uns podem ficar de olho nos outros. Dito isso, acrescento que tenho mais simpatia pelos capangas de terno da yakuza, os ninjas talvez por serem mais uniformizados estejam sem personalidade, menos que capangas, pau-mandados. Os trajes civis sempre emprestam mais dignidade.

Já ouvi dizer que convenções de guerra proíbem que se atire sistematicamente nos oficiais inimigos. Imagino que isso poria fim mais rápido às batalhas, o que deve ser ineficiente.  Devemos isentar de culpa o Hugh Jackman, afinal ele só declama inexpressivamente o texto que recebe, e Adam West no seu tempo fazia igualzinho com os capangas.  Mas na ficção ou no Palácio dos Bandeirantes, será que dava para de vez em quando o Darth Vader, e não apenas o zé ninguém de capacete, pagar o pato?

Em alguns dias resenho Frances Ha.    (Ha Ha Ha)

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