[Black no Mucho]
Mary tinha um carneirinho, e seu pelo era branco como a neve, mas seu coração era negro como as asas da graúna. O coração negro do carneirinho de pelo branco como a neve de Mary, gostava de coisas proibidas. Ele queria ver o mar. Mas o coração não pode ir sozinho ao mar. Ele precisa ter – se não asas negras como da graúna, ao menos – a posse do carneirinho. O carneirinho de coração negro, não era mais o carneirinho de Mary. Mary tinha um carneirinho, agora não tinha mais. E o pelo branco já pouco importava.
O carneirinho fez dreads com uns amigos que encontrou perto do mar. Da muito trabalho fazer dreads em todo aquele pelo branco como a neve. Pior se está sujo de areia. Mas não da pra pegar garotas sendo o carneirinho de pelo branco como a neve.
Marys não contam, esposas não contam, mães não contam. Então vale o esforço.
Mary tinha um carneirinho, e sua pele era branca como a neve. O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito. Em Copacabana, nem sempre é tão bonito. Mary não se sentia a vontade de molhar sua pele branca como a neve naquela espuma meio marrom. Agua reciclada, agua encardida, agua que já havia sido vivida. O sol deixava vívida a pele branca como a neve de Mary. Mas se a agua marrom afastava Mary, a pele marrom – ou negra como a asas da graúna, a deixava nervosa. Peles marrons com mouses inquietos e rígidos sob a pele. Mouses são melhores que carneirinhos. Carneirinhos são obedientes demais.
Carneirinhos ingratos, você cuida do pelo branco deles e eles se sujam, mas não te sujam, os ingratos.
O rato roeu a roupa do rei da Rússia. O rei da Rússia ficou branco e pelado. Sorte dele que foi em Passárgada, na Rússia teria morrido congelado. Ou congelada. Depende do documento ou dos documentos. Desde a viagem a Tailândia, A Rússia tinha uma rainha. O rei fora branco como o carneirinho de Mary, a rainha não era mais russa, estava bronzeada, e já bronzeada beijou o rato que virou príncipe. O príncipe do dragão tatuado no Braço.
Maldito rato comedor de roupa do Rei da Rússia.
Desce uma, desce duas, desce mais. Enquanto mary não cede. Eu mato a sede. Mentira. Não estou com sede, bebo porque é liquido, se fosse solido, como a Mary, eu comia. Não estou com sede, mas tenho certeza que se a Mary beber mais um pouco, acaba ficando com sede.
Pobre Mary, da pele branca como a de um carneirinho, chapou o coco, quebrou a cabaça, derramou o leite.
Na luta do arpoador contra o mar. Quem ganha é a espuma.
Mary tinha uma amiga, a amiga da mary tinha amigas, como cerveja que uma sempre chama outra. Afinal, ninguém bebe realmente só uma, porque a numero um é a mais vendida, e como a Mary, a numero um, é a mais vendida. Qual a diferença entre estar vendida e ser vendida? O problema de misturar cerveja é a dor de cabeça. A Itaipava da dor de cabeça, mas os nativos gostam, os nativos gostam de dor de cabeça. E Mary e suas amigas são muita dor de cabeça, então os nativos gostam. É como espelhinhos. E espelhinho sempre lembra índia pelada.
Pelada? Como mesmo dizia Gil Vicente? Peladas como formigas…
Lá vos digo que há fadigas. Tantas mortes, tantas brigas. E perigos descompassados. Que assi vimos destrocados. Pelados como formigas.
Pelados como formigas pode. Índia pelada, índia sozinha, é só uma índia sem vergonha. Agora formigas e formigos pelad@s, muit@s formig@s peladas, é praia, é sol, é carnaval.
Pelos brancos de carneirinhos. Asas negras de graúnas. Mousses irrequietos. Índias que formigam peladas. Rainhas sem cedilha da Rússia. Tudo no caldeirão. No caldeirão incultural. Na sopa de lexa. Pobre carneirinho de falsos dreads, sujos pela agua suja de Copacabana… Não sabe falar a língua. Não vai a Roma. Azar de um, sorte de muitos, dos muitos amigos não tão bonzinhos da Mary. Mentira. Sorte da Mary. Uns dias mais que outros. Com umas tias mais que outras. Comigo seu dia de sorte é aos domingos. Sempre aos domingos.
E quem um dia irá dizer… que nunca ouve uma história de amor como a de Mary Capuleto e Carneirinho Montecchio?