A China que Vi… Shî, shí, shî, shì, shi, shî.

[Marcelo Castañeda]

Não sei se comi carne de cachorro nos seis dias em que estive na cidade de Pequim, participando de um seminário, com um grupo de sociólogos brasileiros. Desconfio que eu tenha experimentado esta iguaria numa noite em que comemos num fast-food coreano, pois o que comi e vi era algo difícil de reconhecer como carne bovina.

Como tem sido recorrente alguns conhecidos, colegas e amigos (e amigas) perguntarem sobre esta viagem ao país milenar, escrevi este pittaco sobre minhas impressões etnocêntricas (sim, qualquer pessoa que tenha mais vivência na China vai conseguir ser muito mais profundo, mas não é esse o objetivo aqui). De início, recomendo buscar um guia, pois quase ninguém fala inglês naquela terra, ou então aprender mandarim, o que não consegui fazer. Com algum esforço, aprendi a pronunciar apenas uma palavra (olá, que lembro soar como nirrau).

Voltando a ideia que deixei no primeiro parágrafo. Sim, existem fast-foods por lá, assim como vários sinais da presença do (temeroso?) capitalismo selvagem. Os shopping-centers proliferam pelo centro da capital chinesa, dando todo ar de sua graça, e os preços até que parecem ser mais em conta do que nos templos de consumo brasileiros. Uma mala, por exemplo, é um item mais barato, mas parece que os eletrônicos (como os genéricos do iPhone, e o próprio original) não oferecem condições tão vantajosas de aquisição. Quinquilharias como caixinhas, bonecas, colares de pérola, pequenos budas de jade, entre outras mercadorias coloridas são vendidas em grandes bazares, com preços mais convidativos que o Mercado Popular da Uruguaiana, no centro do Rio de Janeiro.

Aliás, o rosto de Mao Tsé Tung está estampado em todas as cédulas da moeda chinesa, o yuan (para se ter ideia: R$ 1 = 6 yuan). Em função de termos chegado justamente na semana em que se comemora a revolução, fomos convidados pelos nossos anfitriões a assistir uma peça de teatro que louvava o papel do grande líder, que é onipresente, pois tem sua cara espalhada pela cidade. Sua imagem era uma constante nos pontos turísticos que visitamos, entre os quais lembro bem da Cidade Proibida, do Lamma Temple e da Grande Muralha. Todos estes monumentos impressionam pela grandeza e imponência, nos trazendo uma certeza: somos um reles grão de areia.

Só posso falar do centro de Pequim, pois não tive contato com a periferia, nem com o meio rural. Já no aeroporto, propagandas de grandes marcas globais (Tiffany e Ferrari, por exemplo) acenam que existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonhávamos encontrar em um país comunista. As largas avenidas, com uma média de seis faixas de rolamento, estão repletas de outdoors eletrônicos, que iluminam anúncios do que há de mais moderno no ocidente.

Agora, se ainda paira a dúvida de que comi carne de cachorro, fica a certeza de que comi algo parecido com lesma. Uma delícia temperada! Chamam de pepino-do-mar. Muitos tipos diferentes de comida circulavam na mesa dos sofisticados restaurantes, aos quais fomos apresentados nesta curta temporada. Não me deparei com o gafanhoto, que reza a lenda, entretanto, é uma espécie de prato típico.

O rodízio de lá remete a uma mesa com uma espécie de prateleira circular, que fica girando com as porções distribuídas ao longo. Devo confessar que não foram poucas as vezes em que dispensei os palitinhos e me rendi aos talheres para desfrutar de frango gelado (um luxo!), entre outras iguarias. O mais engraçado é que o que eles mais gostam, geralmente era o que menos me apetecia. Tudo bem, podem dizer que sou etnocêntrico (e como não sê-lo em apenas seis dias?).

Para não dizer que não falei da internet, não consegui acessar minhas contas no Facebook e no Twitter, e vim a saber que ambos são bloqueados na China, sendo que a rede é monitorada por cerca de 40 mil ciberpoliciais. Esta é uma faceta da censura e da falta de liberdade, apoiada por alguns e criticada por outros, sempre de forma cautelosa. Apesar disso, disseram que existem redes sociais chinesas, as quais não tive a oportunidade de acessar, até pela muralha linguística.

Esse é meu relato sobre minha estada de seis dias na cidade que é a capital da mais nova potência mundial. Se o lado brilhante apresenta grandes avanços na constituição de um mercado interno e taxas elevadíssimas de crescimento econômico, há um outro que passa bem longe de configurar um tipo qualquer de experiência democrática.

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