Psicologia ou Psicodelia?

Raquel Munayer

Imaginem como seria legal se existisse uma pílula que nos fizesse enxergar a realidade ao nosso redor? A famosa cena “Blue Pill-Red Pill” do filme Matrix representa brilhantemente essa dualidade, que se repete na vida de cada um de nós cada vez que somos enfrentados com a necessidade de fazer uma escolha. Escolha entre o bem e o mal, a comodidade e a aventura, a segurança e o desafio.

“Como assim, enxergar a realidade ao nosso redor?”, alguns devem se perguntar. Bom, aí entramos em uma questão pessoal e complexa: o que é realidade?  Se para você, objetos e ações visíveis e palpáveis compõe a realidade, é compreensível que tal afirmação não faça sentido algum. Porém, existem muitas coisas acontecendo ao seu redor dos quais você sequer se dá conta, mas que possuem forte influência sobre a sua vida. Matemáticos, físicos e mecânicos quânticos, bem como alguns novos movimentos como a Ciência Noética, estudam aquilo que os nossos olhos não vêem, mas que são tão reais quanto a nossa própria existência. Outras dimensões, a influência dos nossos pensamentos sobre outros e a existência da alma são alguns dos temas por eles estudados. Concomitantemente com os experimentos científicos está o uso de drogas alucinógenas, que para muitos, promete desvendar muitos mistérios e gerar muitos outros mais. A partir deste ponto, peço que deixem de lado os seus preconceitos e abram as suas mentes, pois mergulharemos no inexplorado e fascinante mundo da Psicodelia.

Tudo começou com os antigos povos indígenas das Américas. Alguns destes povos, utilizavam-se de substâncias intoxicantes em rituais religiosos ou sagrados como um meio de comunicarem-se com espíritos, conhecerem outras vidas, enxergarem o passado e o futuro, entre outras diversas razões. Muitas destas civilizações carregaram estas tradições até o dia de hoje, como o Peyote, um tipo de cactus do México, ou a Ayahuasca, um chá consumido por tribos amazônicas. Estes povos reconheciam a importância da consciência e buscavam elevá-la através do consumo de drogas alucinógenas, sempre inserido em um contexto religioso/espiritual. Tais hábitos foram considerados primitivos por antropólogos do início do século, mas tem se mostrado mais interessante do que a nossa sociedade preconceituosa gosta de admitir.

Quando, em 1938, o químico suíço Albert Hofmann acidentalmente sintetizou o LSD-25, que já existe na natureza, o universo farmacêutico sofreu uma revolução. Não se sabia exatamente qual era a função daquela droga, apenas que era extremamente poderosa. O laboratório Sandoz, para o qual Hofmann trabalhava, passou imediatamente a produzir enormes quantidades da droga e a enviar amostrar para laboratórios por todo o mundo, para que, através de experimentos, alguma utilidade pudesse ser descoberta. Não demorou muito para a Psiquiatria encontrasse o seu potencial. As primeiras aplicações foram em pessoas com distúrbios psicológicos profundos como a esquizofrenia, tendo sido estendida para o tratamento de viciados em álcool e drogas. Os experimentos eram simples: os pacientes recebiam uma dose do alucinógeno e eram deixados à vontade, geralmente deitados e com uma toalha sobre os olhos, e muitas vezes eram estimulados pelos médicos com música ou flores, com o objetivo de causar boas sensações e induzir os pacientes a estados de alegria e consciência elevada. Depois de passado o efeito, os pacientes relatavam ao médico as suas experiências em detalhes, e era muito comum que tivessem descoberto muito sobre si mesmos, reconhecendo falhas e compreendendo a raiz de seus vícios e comportamentos inadequados, sendo uma ou duas sessões normalmente suficientes para quem uma melhora considerável em seu estado pudesse ser observada. O sucesso destes experimentos foi e ainda é inédito, já que até hoje nenhum outro medicamento ou técnica terapêutica conseguiu atingir a marca dos 59% de reabilitação que o LSD conseguiu.

O funcionamento do LSD-25 e outros alucinógenos na mente humana era fascinante para aqueles que a aplicavam e também para os que os recebiam, porém, naquela época pouco se entendia sobre o assunto. Os milhares de experimentos que se seguiram proporcionaram descobertas de valor inestimável para os estudiosos da mente humana, descobertas estas que nos impressionam até os dias de hoje. Compreendeu-se que o cérebro, quando estimulado pela ingestão de dosagens controladas de drogas alucinógenas, criava conexões entre partes que normalmente não costumam se comunicar.  Com esta nova comunicação entre diferentes partes do nosso cérebro, era possível notar coisas que antes passavam despercebidas, tanto no ambiente ao seu redor, como dentro de si mesmos. Em 1954, Aldous Huxley, mesmo autor de“Admirável Mundo Novo”, escreveu o livro “As portas da Percepção” (The Doors of Perception – qualquer semelhança com a banda de Jim Morrison não é mera coincidência) para relatar as suas próprias experiências com Mescalina. Tanto Huxley quanto muitos outros relataram uma viagem pelo auto-conhecimento e uma maneira nova de ver o mundo e que os transformaram profundamente.

As coisas corriam bem. Cientistas de diversas áreas estavam empolgados com as descobertas que vinham fazendo com o LSD e o administravam em si próprios com freqüência para sentirem-se mais próximos de seus pacientes. Para melhorar, a droga parecia não produzir efeitos colaterais. Não causava pós-depressão, não gerava problemas de saúde por não ser tóxico e também não viciava. Parecia um sonho. Mas o sonho durou pouco, pois a notícia era boa demais para estar aprisionada aos tubos de ensaio de alguns cientistas malucsos. Em meados de 1960, o psicólogo Timothy Leary teve a sua primeira experiência com LSD e decidiu que podia usá-lo para mudar o mundo. Passou a administrá-lo em grandes quantidades e popularizar os seus benefícios, fazendo que o seu movimento se assemelhasse a uma religião. Nos anos que se seguiram, a droga ganhou aceitação popular e passou a integrar o movimento de contra-cultura, já tendo sida associada a diversos protestos políticos e sociais. Os usuários  que tinham maior tendência à crenças espirituais relatavam uma maior compreensão e conexão com forças superiores e os céticos alegavam terem a sua criatividade aprimorada.

Tanta popularidade fez com que o LSD fosse proibido da noite para o dia, e assim foram interrompidos todos os experimentos com a droga que estavam em andamento. Houve muito protesto por parte daqueles que a estudavam, mas o medo do governo americano de ter o seu povo contra si foi maior, e pressionaram outros países a fazerem o mesmo. Como não podia ser diferente, utilizaram-se de suas famosas propagandas sensacionalistas para criarem pânico, gerando uma paranóia que provou-se mais perigosa do que a própria droga. Mas aí já era tarde, pois ele já havia, literalmente, caído na boca do povo. Quando o LSD deixou de ser objeto de estudos para se tornar meio recreativo, o seu status em nossa sociedade decaiu e a sua credibilidade como potencial apoiador da Psiquiatria perdeu a credibilidade. Ainda discute-se se a influência de Timothy Leary foi negativa, por ter atraído muita atenção à droga e conseqüentemente causado a sua proibição, ou positiva, por tê-la tornado acessível às massas, acontecimento sem o qual eu provavelmente não estaria escrevendo este texto agora.

É importante lembrar que o LSD é atóxico, o que torna esta cartela de comprimidos para gripe que está na sua bolsa mais perigosa do que ele. Acredita-se que pode causar danos psicológicos, mas a falta de resultados conclusivos ainda mantém esta conjetura na teoria. Os motivos que levaram o LSD à sua proibição começam a se tornar mais claros quando conhecemos a sua história. A droga foi proibida por razões políticas, por medo de que o povo se tornasse muito consciente e que isto pudesse ser um estopim para revoluções indesejadas pelo o que podemos chamar de “Aristocracia moderna”. Não havia motivos para se preocupar com o uso da droga, sendo a solução ideal para o seu uso indiscriminado uma boa dose de educação, ensinando-nos a importância do “Set & Setting” (o “Set” representa as suas emoções, que devem estar equilibradas no momento da administração, e o “Setting” é a escolha do local ideal, de preferência na natureza, e das pessoas que estarão com você, que devem ser agradáveis e inspirar-lhe confiança. Acredita-se que, com o “Set & Setting” perfeitos, é praticamente impossível ter uma bad trip).

Ninguém estava preocupado com a nossa saúde quando o LSD foi proibido. Pelo contrário, pois sem educação e controle, o uso recreativo da droga se tornou mais perigoso após a sua proibição. É uma pena que a ciência seja impedida de dar continuidade aos experimentos com ele, e ainda me pergunto quantas pessoas não tiveram a oportunidade de se curarem de suas mazelas por conta disso. No Brasil, o LSD é classificado como droga pesada e o porte de uma dose única já é suficiente para que o usuário seja considerado traficante. A ambigüidade deste tema se mostra quando colocamos a Ayahuasca na conversa. Também conhecida como Yagé ou Santo Daime, o chá da planta é altamente alucinógeno, sendo capaz de levar os seus usuários a terem visões claras e sensações físicas fortes, devendo estar sob a supervisão de pessoas experientes para lhe guiarem para uma boa experiência. Para quem não sabe, a Ayahuasca é legal no Brasil e pode ser consumida sem medo de represálias. A sua legalização, baseada no fato de que é parte intrínseca de rituais indígenas e, portanto, patrimônio cultural do nosso país, não tem nos trazido grandes problemas, apesar de se tratar de uma droga muito mais forte do que o LSD. É muito comum ouvir depoimentos de usuários de que mudaram as suas vidas e se tornaram pessoas melhores após seu primeiro contato com um alucinógeno.

A análise deste tema levanta uma questão importante: que o seu uso recreativo seja proibido até dá para entender. Mas porque a ciência é impedida de dar continuidade aos estudos dos seus benefícios? Será que há algo de muito ruim com eles, ou talvez de muito bom? Quanto a você eu não sei, mas eu não consigo me livrar desta sensação de que estão nos escondendo alguma coisa…

3 comentários sobre “Psicologia ou Psicodelia?

  1. Pingback: Um encontro entre a Psicologia e a Psicodelia « Interrompemos@Programação

  2. O medo é dos Illuminattis que governam o mundo, de que a massa popular tenha um entendimento Bíblico verdadeira, e como Newton disse, a luz domina as trevas, e as trevas dominam a luz. O sistema é o significado de da frase “O mundo jaz do maligno”, em linguagem simbólica. O LSD dá esse tipo de visão para o indivíduo, mas quem tem um breve entendimento Bíblico, conclui que, JESUS, q fez o sobrenatural na Terra, e o usuário passa a levar isso em consideração!
    Minhas palavras explicam com clareza o porque de o LSD fazer com que usuários de drogas e alcoólatras abandonem seus vícios e seguem uma outra vida após a experiência Psicodélica.
    Psico: do grego psiké(alma) e logia= estudo> Psicologia
    Psico + delia: do grego delos(manifestação).

    Esta é a pequena teoria que deixa claro que a sabedoria humana é a loucura de DEUS, e a sabedoria de DEUS é a loucura do homem, e todo esse preconceito começou depois que a ciência propôs a querer descobrir fontes que contrariam a Bíblia, mas a leitura bíblica exige uma dinâmica entre conhecimento, entendimento e sabedoria, e elementos da natureza como cogumelos contendo psilocibina são respeitados em várias culturas nativas q, antes mesmo de a Bíblia ser escrita, já estava na Terra em seu período de evolução.

    E, bibliograficamente falando, o sistema sociopolítico nos consideram loucos, porque entendemos diversas áreas antropológicas, pelo uso dessa substância do cogumelo também usada na composição do LSD, e esse nome se deu pela abreviação da música da banda The Beatles, “Lucy in the Sky with Diamons”. The Beatles foi uma revolução no início da música psicodélica, embora essa iniciativa tenha vindo da banda Pink Floyd.

    Se a música teve revolução, fica uma pergunta juridicamente questionável, o que mais se espera revolucionar neste mundo, com um sistema mundial falido em mentiras que contradizem à própria lei humana e a Lei de DEUS, levando em consideração a proibição do LSD?

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