Odônio dos Anjos Filho
Craque, ídolo, gênio, íntegro, tudo que se fale aqui, chove no molhado para definir o Dr. Sócrates. O nosso magrão, dos amigos, era o cara presente. A figura brincalhona que espalhava apelidos e que amava a companhia dos amigos. Eh putata! Quem teve o privilégio de sua companhia vai lembrar deste seu irreverente cumprimento.
Reizinho, era como ele me chamava, de vez em quando. Segundo ele, me vendo lembrava do Rei personagem do Jô Soares, por ser gordo. Outro amigo nosso ele chamava de Le Pen, político da direita francesa (Jean-Marie Le Pen); outro, ainda, ele chamava de Vanusa; enfim, pegou a mania do seu grande amigo Fernando Kaxassa (Presidente do Cineclube Cauim de Ribeirão Preto), que também colocava muitos apelidos nos amigos. Logo, meus caros, diante deste quadro desolador, meu apelido passou até a ser bom diante de outros.
Minha maior convivência com o Magrão tive quando resolvemos, ambos, começar a cuidar da saúde. Ele realmente me motivou a iniciar o meu esforço de me cuidar, após quarenta anos maltratando esta velha carcaça.
Foi sim… Foi ele um incentivador!
Combinamos ele, eu e Le Pen de caminhar, em Ribeirão Preto, pelo menos três vezes por semana. Lá íamos nós do centro da cidade, onde moramos, até um parque maravilhoso, que apesar de ter um nome de um prefeito, ainda hoje, a população chama de “Curupira”. Andávamos uma hora e meia, em uma desafiante maratona. Passamos quase um ano nessa toada esportiva. Foi uma convivência sensacional. Tivemos boas conversas, demos boas risadas e esculhambamos muito o Le Pen (cujo verdadeiro nome não revelarei nem sob tortura). Ele odiava a alcunha e chegou a pedir seriamente ao Sócrates para parar. Obviamente, nunca foi atendido!
Pasmem vocês! Ao longo de todo este tempo, nenhuma gota de álcool nesta atividade, o que nega completamente a fama de alcoólatra do nosso Magrão. Alcoólatra que se preze, pela manhã, já dá sua talagada.
Só sei que dessa experiência incorporei a ginástica na minha vida e continuo até hoje. Três vezes por semana, como num cumprimento de uma sentença, passo a me exercitar criminosamente. Hoje uso a academia como um amargo remédio, que o Dr. Sócrates receitou, como meu médico, por isso cumpro. Ele me ensinou que a vida pode ser prolongada com mais qualidade. Acho que faltou um médico na vida dele.
Conheci o Magrão no primeiro governo do Palocci (1993/1996). O governo dos idealistas, pré-Real Politik. Um time, em sua maioria, de gente séria, do qual me orgulho de ter feito parte. Ele como Secretário de Esportes do Município e eu como Presidente da Cohab – Companhia Regional de Habitação Popular. Isso em 1994. Na minha natimorta candidatura a Prefeito, tive o seu grande apoio, quando ele afirmou na imprensa que toparia ser candidato à vice-prefeito, se eu fosse o cabeça da chapa.
Graças a Deus, nem ele, nem eu nunca fomos candidatos a nada. É possível dar uma contribuição política fora dos partidos e ele de forma expressiva e nacional, deu grande contribuição ao país, enquanto eu, também, pude dar minha pequena contribuição.
Posso dizer que me tornei amigo dele com aquelas caminhadas, mas apesar de conhecê-lo desde 1994, amizade mesmo, creio que construímos em 2000, quando Fernando Kaxassa nos aproximou. Este sim, seu maior confidente, seu grande e fiel amigo de todas as horas. O Cineclube Cauim foi, na verdade, quem selou esta amizade e daí pude desfrutar desta companhia maravilhosa nos trabalhos que fizemos juntos pelo Cauim. Seja nos projetos, seja nos programas de televisão, seja no Templo da Cidadania, seja no Cinema, seja no bloco Berro. O xodó do Magrão sempre foi o Cauim, que ele tanto ajudou, atuando como um embaixador da entidade na busca por recursos para desenvolver projetos.
Pelo Magrão, mais recentemente, conheci o Eduardo, o Duzão, seu filho, e hoje trabalhamos juntos pelo Cauim. Ele cuida dos projetos da entidade e eu auxilio, quando posso. O Duzão foi um grande presente que o Sócrates me deu. Seu guardião e secretário, que até o fim da sua vida esteve a seu lado. Uma figura humana linda, de uma decência que lembra muito o pai.
O Magrão, ninguém duvida disso, viveu intensamente. Pena que seu fígado era fraco. Conheço muita gente que morre em decorrência deste filtro vagabundo que puseram no nosso corpo. Desconfio que há alguns anos a fabricação deste órgão esteja sendo feita na China. Só pode ser! Tem gente que nunca bebeu e morre por causa desse órgão defeituoso.
Magrão também era um apaixonado. Casou muitas vezes. Lembro de uma fala do Juninho (jogador de futebol e amigo de Sócrates), quando o Magrão reclamou que ele não tinha ido num casamento dele. Juninho disparou: “Fica tranquilo, no próximo eu vou!”.
Foram vários casamentos, oficiais e outros oficiosos. Magrão foi o Vinícius de Moraes do esporte. Deixou seis filhos. Todos criados ou em boa criação. Todos com mães fantásticas que souberam ajudar e liberar o Magrão para o mundo.
Valeu Magrão! Fica aqui o agradecimento de todos. O meu agradecimento pelo seu respeito, pela convivência e pelo que me ensinou. Agradecimento do esporte, da política e do seu país. Você que era brasileiro até no nome e queria tanto ver este país melhor, saiba que, nesta construção, você deu seu exemplo.
Ética, compromisso, coerência, honestidade e patriotismo: você sempre teve de sobra!!
Os críticos, principalmente os puritanos e aqueles que não bebem, você já sabe: Não se pode confiar em quem não bebe nada!